Um sistema fadado ao fracasso
- Maiume Ignacio
- 14 de jul. de 2017
- 5 min de leitura
Em tempos de filas de espera gigantescas, falta de medicamentos e precariedade no atendimento de saúde pública no Brasil, se fazem necessários alguns questionamentos. Como anda o sistema de saúde no Brasil? Quais suas deficiências e seus pontos positivos? O que deve ser feito para seu aperfeiçoamento? Quais as diferenças do Brasil frente a países como Cuba e Inglaterra? O seguinte relatório propõe-se a responder estas perguntas, e caso não seja possível a total elucidação destas questões, que pelo menos se ilumine a mente de quem buscar esse tipo de conteúdo.
O Brasil conta com uma população que já ultrapassa os 200 milhões. Destes, cerca de dois terços, 150 milhões, ou um pouco mais depois da crise, depende do Sistema Único de Saúde (SUS), o restante utiliza a saúde complementar, representada pelos planos pagos. Criado em 1988, o SUS, em sua utopia, buscava atender a todo e qualquer brasileiro gratuitamente, tendo ele plano ou não.
Com o passar dos anos, as dificuldades começam a aparecer. Entre estas estão o subfinanciamento, característico pela falta de recursos para atender a todos e a má gestão, realizada pelos governistas. Com a presença inerente da burocracia aliada a corrupção, milhares de pessoas são prejudicadas.
Nos plano particular o sistema é outro: a partir do número de conveniados o plano define o valor da mensalidade que cobrirá por uma gama de serviços. Além desta mensalidade, usuários precisam ainda pagar taxas de coparticipação, responsáveis por estabelecer um percentual em cada serviço, para que o paciente pague a mais.
Nos convênios também ocorrem problemas. Usuários reclamam do valor da mensalidade, das taxas e do mau atendimento dos médicos, médicos são mal pagos, pedem muitos exames, e convênio fica contra os médicos, usuários tem procedimentos negados e vão a justiça para conseguir mediante liminar a obrigatoriedade do serviço. Desta forma ficam todos contra todos. O lado bom é que quem conta com o serviço tem acesso mais rápido e facilitado.
O SUS brasileiro está longe de ser ideal. Apesar dos déficits apresentados, conta com muitas políticas públicas positivas. Entre estes projetos destacam-se o programa de vacinação gratuita, a distribuição de medicamentos para o tratamento da AIDS, os hemocentros, o programa de transplante de órgãos, o serviço de urgência e emergência (SAMU), o programa de estratégia de saúde da família e muitos outros que de forma integral beneficiam a população.
O renomado médico Drauzio Varella explica, em uma de suas palestras qual a alternativa para melhorar o SUS no Brasil. Segundo Varella, nossa população está engordando muito e em processo de envelhecimento. A saúde, tanto SUS quanto nos planos particulares é baseada na doença, em seu tratamento. A solução seria por tanto, focar na prevenção destas enfermidades. Mostrar aos cidadãos como se alimentar melhor, incentivar a prática de exercícios e consequentemente diminuir o número de gastos na saúde pública.
O médico frisa ainda que a medicina é a única área onde a implantação de tecnologia encarece o processo. Se a base de gestão seguir sendo a doença, jamais haverá chance de se manter tal sistema. Outro fator que emperra o setor é a burocracia que se não extinta, pode ser diminuída.
O Brasil é um país de terceiro mundo, está em fase de desenvolvimento, porém este não pode ser a desculpa usada para explicar a causa de tantos problemas. Como exemplo de sucesso no terceiro mundo é possível citar Cuba. Uma pequena ilha que apesar das sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos e da escassez de recursos, apresenta resultados reconhecidos mundialmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Cuba baseia seu sistema de saúde na medicina preventiva, conta com ampla cobertura de todos os serviços ara seu povo, tem a escola médica mais avançada do mundo, além de oferecer apoio humanitário para outros países.
Seus indicadores sociais impressionam pela similaridade aos de nações mais desenvolvidas. Com uma taxa de mortalidade infantil de 4.2 em cada mil crianças nascidas vivas, apresenta o melhor índice do continente, ganhando inclusive de países como os Estados Unidos, conta ainda com expectativa de vida de 78 anos.
Por ser referência, o sistema de saúde cubano exporta mão de obra para outros países, atualmente 30 mil colaboradores cubanos trabalham em mais de 60 países. Um exemplo emblemático desta ajuda foi a Operação Milagre, lançada por Fidel Castro e Hugo Chaves em 2004. Esta campanha, de âmbito continental, consistia em operar gratuitamente os latino-americanos que sofriam de catarata e outras doenças oculares.
Outro projeto que ultrapassou as fronteiras continentais foi o da Labiofam, empresa de produção química e biotecnológica. Em 2014 na África, esta, ofereceu uma campanha de vacinação gratuita para crianças contra a malaria. Durante visita à Cuba, a diretora-geral da OMS, Margaret Chan elogiou o sistema e enfatizou “Desejamos de modo fervente que todas as pessoas que vivem no planeta possam ter acesso a a serviços médicos de qualidade, como em Cuba.
No aplaudido primeiro mundo a organização parece ser o foco das operações. Na Europa, quem se sobressai nesse quesito é a Inglaterra. O National Health Service (NHS) é o sistema adotado. Considerado o maior e mais antigo sistema público do mundo. Permite que todos que vivem legalmente na terra da rainha, inclusive os estudantes com visto, têm direito a consultas, atendimentos, tratamentos e, em alguns casos, até medicamentos gratuitos. Para os turistas, o indicado é contratar um seguro de viagem que cubra gastos hospitalares, pois estes só serão pagos em casos de urgência e acidentes.
Todos os bairros contam com centro de saúde, administrado por um médico geral. Este médico realiza as consultas e se achar necessário encaminha os pacientes para um especialista. Para ser atendido em um destes centros, basta levar um documento de identidade e um comprovante de residência para realizar o cadastro no sistema. A partir daí é gerado um número identificador e o nome da farmácia onde serão retirados os medicamentos, (nem todos são gratuitos). As consultas são marcadas pessoalmente ou por telefone.
Para os casos de atendimento imediatos, clínicas são disponibilizadas a população que por sua vez é atendida por ordem de chegada. O NHS, oferece ainda da um serviço 24 horas de apoio ao paciente. Basta ligar para o número 111. Na área odontológica, o NHS cobre parcialmente as despesas, ofertando o serviço em clínicas de especialização, sendo necessário um cadastro aos usuários.
Como diferencial, o reino unido apresenta como uma de suas prioridades a saúde sexual. Métodos contraceptivos são oferecidos nos centros de saúde dos bairros, assim como testes de gravidez, pílulas do dia seguinte e remédios para doenças sexualmente transmissíveis, tudo isso sem custo algum. O aborto é visto como um assunto de saúde pública, por isso é permitido no país, com algumas restrições. A prevenção destas questões é realizada por meio de campanhas preventivas e de conscientização em temas como gravidez na adolescência e violência sexual. Médicos contratados pelo governo chegam a ganhar o equivalente a 200 mil dólares por ano. Essa quantia refere-se ao salário e as gratificações por fazer com que um paciente pare de fuma e melhore sua pressão ou procure um tratamento psiquiátrico.
Todos os dados e informações acima citados levam a uma simples conclusão: a de que sim, o Brasil tem condições de melhorar seus ditames de saúde pública, e deve fazer isso seguindo o exemplo de países como Cuba, que mesmo sem muita verba prioriza o bem estar da população, ou ainda como o da Inglaterra que trabalha na prevenção de doenças e na valorização de seus profissionais. Se não for dessa forma, estaremos nós, brasileiros, fadados ao fracasso.
Fonte: https://www.elondres.com/nhs-o-que-e-e-como-funciona/
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