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Tecnologia invade os palcos de São Paulo

  • Márjorie Wartanian
  • 28 de ago. de 2017
  • 3 min de leitura

A chamada Companhia dos palhaços fez sua 50º apresentação da peça “Adeus, palhaços mortos” no Itaú Cultural, na terça-feira (20). A peça acontece dentro de um cubo e conta com aparatos tecnológicos como retroprojetores, muitas luzes e efeitos sonoros. Simultaneamente à apresentação há um técnico de som no palco trabalhando com o som, a luz e a projeção das cenas no cubo.

A tecnologia envolvida na peça é uma inovação no mundo teatral, uma vez que não há cenário além do cubo, feito de voil cinza, onde as imagens são projetadas. Para que isso seja possível, três retroprojetores trabalham ao mesmo tempo, dois deles ficam no chão, dos lados do cubo, e um no teto, de frente para o palco, neles aparecem as mesmas imagens, que são combinadas com o movimento e falas dos personagens; em cada troca de cena há um som, também combinado com as imagens. O técnico de som coordena todos os equipamentos ao vivo através de um computador e com apenas um disparo rápido muda as imagens, as luzes e produz os sons, pois o sinal de áudio enviado pelo computador aciona as luzes via midi, uma tecnologia padronizadora de comunicação entre instrumentos musicais e equipamentos eletrônicos. Seria possível programar os equipamentos para fazerem toda a peça automaticamente, mas em caso de erro durante o espetáculo, os atores precisariam recomeçar a apresentação, por isso, eles optaram por fazer tudo ao vivo.

As “cenas” de luz, som e imagem são programadas previamente, logo os atores e o técnico precisam estar totalmente em sintonia, a cada mudança de cena os atores mudam de lugar dentro do cubo e as luzes também, durante todo o espetáculo elas ficam acima deles, iluminando cada um com uma cor diferente. Para que tudo saia corretamente, os atores precisam ensaiar intensamente e decorar não só o texto, os gestos e a entonação da fala, mas também a posição da luz em cada cena durante os 70 minutos de apresentação. Além disso, quando os personagens gritam sua voz é remixada, por isso, eles e o técnico de som precisam saber exatamente o tempo dos gritos no espetáculo, o que dificulta ainda mais o trabalho dos integrantes. Nessa peça, o trabalho do técnico de som, em alguns momentos, é mais importante do que o dos atores. Há muito trabalho teatral e tecnológico sendo feito para que a apresentação seja possível.

O ENREDO

Não é só a tecnologia que chama atenção no espetáculo, o enredo fascina os espectadores. A trama conta a história de três grandes palhaços, Pupa, Lala e Possi, que fizeram muito sucesso no passado, mas na atualidade estão desempregados e pouco reconhecidos. Eles se encontram numa entrevista de emprego para um circo e começam a relembrar as antigas vivências, essas lembranças são alternadas com pequenas crises existenciais e troca de insultos entre os antigos amigos, uma vez que só um terá a vaga. Após algum tempo de conversa os palhaços começam a fica inquietos, refletindo no porquê do anuncio buscar por “palhaços velhos”. Essa reflexão evolui para um pensamento sobre a pós-modernidade e o fim dos ofícios. Nesse ponto da peça a plateia já deu muitas gargalhadas e é induzida a refletir junto com os palhaços sobre a tecnologia estar substituindo os humanos, o que causa uma contradição proposital, uma vez que o espetáculo é demasiadamente tecnológico. Os personagens entram nessa contradição dizendo de modo irônico que, como palhaços, não gostam de artefatos muito tecnológicos, o que deixa a figura das personagens mais intensa e real.

A HISTÓRIA

Essa peça é um marco na vida dos atores, seu grupo, chamado de Academia de Palhaços, era composto por cinco palhaços, eles se apresentavam numa Kombi que pegou fogo e queimou todos os objetos e figurinos usados nas peças. Após isso, dois dos cinco integrantes saíram do grupo, deixando os outros três, Luíza Dantas, Paula Hemsi e Rodrigo Pocidônio, desamparados.

Mesmo com a tragédia os atores não desistiram do ofício e convidaram o diretor José Roberto Jardim para recontar sua história de um belo modo. Jardim lhes apresentou o texto “Um trabalhinho para velhos palhaços” de Matei Visniec, que conta a história de palhaços no fim de suas carreiras artísticas, um símbolo perfeito para o recomeço dos três atores, que chegaram perto do fim da Academia de Palhaços, mas conseguiram reconstruí-la com um belo espetáculo, o qual mistura opostos: simplicidade e tecnologia e reflexão e descontração, fazendo menção aos opostos vividos pelos atores, o fim e o recomeço.


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